Bernie Sanders à CNN: Partido Democrata deu as costas ao que era sua base

O senador progressista americano Bernie Sanders deu início a uma nova fase de sua turnê de comícios intitulada “Fighting Oligarchy” (“Combatendo a Oligarquia”, em tradução literal) e concedeu uma entrevista à âncora da CNN Dana Bash.

Em uma entrevista abrangente, que incluiu a luta dos democratas contra um projeto de redesenho eleitoral no Texas, os planos de Israel de expandir a guerra em Gaza e a eleição presidencial de 2028, Sanders detalhou sua visão de que o “Partido Democrata deu as costas ao que era sua base”.

A turnê de Sanders tem como objetivo mobilizar pessoas que buscam alguma forma de ação política e resistência ao governo Trump com comícios por todo o país — às vezes com convidados como a deputada democrata Alexandria Ocasio Cortez e o ex-candidato presidencial Beto O’Rourke.

Na sexta-feira (8), Sanders argumentou diante de uma multidão na Virgínia Ocidental – um estado onde Trump venceu com ampla maioria – que o Partido Democrata deu as costas à classe trabalhadora. Ele acusou a ex-vice-presidente Kamala Harris de dar ouvidos a bilionários que apoiaram sua candidatura presidencial em 2024.

Em entrevista à CNN, Sanders chamou Kamala Harris de “minha amiga”, mas disse que os principais consultores de sua campanha foram “fortemente influenciados por pessoas muito ricas”.

A CNN entrou em contato com o gabinete de Harris para comentar.

“Como se candidatar à Presidência e não desenvolver uma agenda forte que atenda à crise econômica que as famílias trabalhadoras enfrentam?”, questionou. “Hoje, a desigualdade de renda e riqueza é maior do que nunca.”

Sanders argumentou que “a chave para as vitórias democratas é entender que é preciso apoiar inequivocamente a classe trabalhadora deste país”.

A taxa de apoio do Partido Democrata entre os americanos atingiu um nível recorde em uma pesquisa da CNN realizada em março pela SSRS.

Sanders obteve o terceiro maior número de votos na pesquisa (8%), quando entrevistados alinhados ao Partido Democrata foram questionados sobre qual líder eles consideram “que melhor reflete os valores fundamentais”.

Quando questionado se concorreria à presidência em 2028, porém, Sanders apontou para sua idade.

“Não vamos nos preocupar com isso. Aliás, vou fazer 84 anos no mês que vem”, disse ele. “Acho que isso fala por si.”

Mas ele disse à CNN que “com certeza” haveria um candidato em 2028 que poderia assumir sua posição representando a ala progressista do partido. “Posso pensar em alguns jovens incríveis”, disse ele, sem citar nomes.

Trump, por sua vez, sugeriu que o vice-presidente JD Vance poderia herdar o movimento “MAGA” (Make America Great Again). Sanders disse à CNN que “não me importa” quem liderará o Partido Republicano em 2028, argumentando que “os republicanos de hoje não têm nada de significativo a dizer à classe trabalhadora”.

Questões globais

Sanders pressiona o governo Trump para não enviar armas a Israel em meio a uma terrível crise humanitária em Gaza e uma grande escalada na guerra, depois que Israel aprovou planos para capturar a Cidade de Gaza.

“Israel tinha o direito, é claro, de se defender do terrível ataque terrorista do Hamas, mas o que eles fizeram desde então foi declarar guerra contra todo o povo palestino”, argumentou.

Sanders, que é judeu, forçou a aprovação de duas resoluções no Senado que bloqueariam algumas vendas de armas dos EUA a Israel, mas elas acabaram fracassando sem nenhum voto republicano a favor.

Mas ele disse à CNN: “Acho que os republicanos, em nível de base, também estão percebendo que não é uma boa ideia fornecer bilhões a um governo que mata crianças de fome”.

Sanders, que há muito tempo critica o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, disse que as ações do país o transformaram em “quase um estado pária”.

Com Trump marcado para se encontrar com Putin esta semana, Sanders condenou o líder russo como “um cara realmente horrível”.

“Sabe, quando se fala em oligarcas, Putin é um dos caras mais ricos do mundo, comandando uma sociedade cleptocrática, e então invadiu a Ucrânia com uma destruição incrível”, disse Sanders. “O povo ucraniano está sofrendo terrivelmente porque esse cara queria começar a maior guerra desde a Segunda Guerra Mundial na Europa.”

Sanders disse que “não é fã de Putin”, mas que acolheria qualquer acordo de paz se o “povo da Ucrânia sentisse que o acordo é positivo”. Ele alertou Trump sobre um acordo que colocaria os interesses da Ucrânia em segundo plano.

“Se, de fato, for possível negociar um acordo que não comprometa o que os ucranianos sentem que precisam, acho que é um passo positivo”, disse Sanders. “Todos nós queremos ver o fim do derramamento de sangue.”

Redesenho eleitoral no Texas

Um dos principais temas no noticiário político dos Estados Unidos nos últimos dias é o projeto dos republicanos do Texas de redesenhar os distritos do estado – uma estratégia que pode garantir até cinco novas cadeiras para o partido na Câmara dos Representantes nas eleições de meio de mandato, em 2026.

Em resposta, governadores de estados controlados pelos democratas, como Califórnia e Nova York, ameaçam responder com as mesmas táticas.

Sanders, senador independente pelo estado de Vermont, que há muito tempo se opõe à manipulação do redesenho eleitoral, disse ainda acreditar que a delimitação partidária prejudica o processo político, mas “os democratas precisam reagir”.

“O que temos agora é uma situação terrível, e os republicanos estão piorando a situação. Bem, o que você vai fazer? Se os republicanos estão fazendo isso, você tem que responder. É patético, mas acho que você tem que responder”, disse à CNN.

“[Trump] está tentando, sabe, com seu jeito autoritário, dizer: ‘Ei, eu não quero perder eleições. Vamos fraudar o sistema. Me deem mais cinco votos no Texas, talvez em outros estados’”, continuou Sanders.